Bola de cristal: Cloud Computing em 2025

Participei de um evento muito interessante chamado Cloud Summit e após minha palestra fui questionado a opinar como o mercado de Cloud Computing deverá evoluir nos proximos anos. Como será Cloud Computing em 10 ou 15 anos? Bem, aqui vai minha opinião estritamente pessoal. Não falo em nome de meu empregador. Na minha visão o modelo Cloud Computing é um novo paradigma computacional, sustentável (ou seja, não é apenas um hype) que será o modelo dominante nos próximos anos, sucedendo os modelos anteriores, centralizado (mainframe), client-server e networking computing. Este modelo vai provocar mudanças signficativas na maneira como os fornecedores de tecnologia se engajarão com os seus clientes e vice versa. Mas, na minha opinião, a “ficha ainda não caiu”. O próprio conceito ainda está meio difuso e muitas das palestras que venho ouvindo por aí ainda causam mais confusão que exploram o potencial e, claro, as limitações do modelo. 

 O mercado de TI já passou por mudanças significativas nas últimos 40 ou 50 anos. O fim da era dos sistemas centralizados e o advento do modelo cliente-servidor provocou o desaparecimento de diversas empresas sólidas, e o surgimento de novas empresas, que dominaram grandes setores do mercado como a Microsoft no segmento de computação pessoal. Estas transformações provocaram mudanças significativas nos aspectos econômicos da TI, e trouxeram novas economias de escala. O custo de armazenamento caiu a quase zero, possibilitando que empresas como Google disponibilizassem espaço em disco gratuitamente em troca de receitas de advertising. O custo de processar uma transação eletrônicamente caiu significativamente assim como preço por GB de memória ou capacidade de processamento.

 O que imagino para os próximos anos? Cloud Computing vai canibalizar parte dos investimentos atuais das empresas em hardware e data centers, que passarão a concentrar seus investimentos nas nuvens ofertadas pelo mercado. Parte dos atuais 2,4 trilhões de dólares que se estima ser o mercado anual de produtos e serviços de TI se deslocará do modelo tradicional (venda de hardware e licenças de software) para o modelo em nuvem. Pelo menos nos próximos anos não será dinheiro novo, mas canibalização da venda de hardware e licenças de software para o modelo em nvem. Mas, na minha opinião, no longo prazo veremos uma transformação do atual modelo de ownership de investimentos em TI (capex), por serviços (opex), o que vai provocar profundas mudanças no mercado como um todo.

 Cloud Computing vai levar os patamares da economia de escala a novos valores e provocar uma onda de inovações no uso da TI. Empresas e negócios hoje limitados pela necessidade de investir previamente em recursos de hardware e software estarão livres desta restrição orçamentária e poderão inovar e ousar. O capital que hoje tem que ser reservado para adquirir computadores e softwares será liberado para a própria operação do negócio. Os riscos serão bem menores.

 Com a disseminação de Cloud Computing ou computação como utility, TI vai se tornar muito mais embutido nos próprios negócios, como hoje a energia elétrica está embutida em qualquer operação comercial ou industrial. Energia elétrica faz parte da “paisagem”, você nem lembra dela quando abre um negócio. Com o modelo de Cloud Computing o processo poderá ser similar: escolhe-se provedores e soluções tecnológicas e pronto a operação do negócio estará no ar. E, quem sabe, esta escolha será intermediada por Cloud Brokers, que escolherão as melhores alternativas de ofertas de nuvens para determinados casos. Claro, que é um cenário futurista, que poderá não ser 100% verdadeiro nos proximos dez anos, mas em quem sabe em 2025? Neste momento não terá  mais sentido falar em IT (Information Technology), mas em BT (Business  Technology). Uma implicação? Maior flexibilidade operacional. Hoje, para abrir uma filial é necessário instalar novos servidores e softwares, e montar um infraestrutura para operação destes equipamentos. Com o modelo em nuvem é só requisitar mais instâncias de recursos computacionais e mais assinaturas de softwares. Simples assim…

 Mas como eu vejo o mercado hoje? Alguns provedores de tecnologia olham este cenário com receio, pelo medo de canibalização de seus atuais modelos de negócios. Outros já reconheceram que os sinais de mudança são claros e já que a mudança será inevitável, mudemos em primeiro lugar. Aqui na IBM, Cloud Computing é visto como o futuro inevitável e a empresa já começou a se mobilizar, o que não é fácil para uma companhia de 400.000 funcionários, para avançar nesta direção.

 É um momento de muitas indefinições. Muitas empresas, as vezes simples provedores de ofertas de location se rebatizam como “Cloud Computing providers”. De maneira geral, nas fases iniciais de uma mudança de modelo surgem inúmeros ofertantes, sem sustentação econômica, que com o tempo vão sendo expurgados pelo próprio mercado.

 Provavelmente também veremos diversos novo modelos de negócio de ofertas de Cloud. O nome Cloud esconde uma ampla gama de serviços diferentes, como IaaS, PaaS ou SaaS. Cada um deles demanda recursos e estruturas de tecnologias diferentes. Por exemplo, uma oferta de nuvem publica IaaS, como a Amazon, é voltada para mercado de massa. As nuvens publicas são altamente padronizadas e massivamente compartilháveis e não são as mais adequadas para serviços especializados, que exigem alto grau de customização às demandas de deteminados clientes. Estas nuvens tratam seus clientes de forma quase anônima, como hoje fazem as telcos, sem necessidade de conhecer mais a funbo as necessidades e demandas de cada um deles. A margem obtida de cada cliente é pequena e portanto precisam de altissimo volume de clientes para serem rentáveis. Demandam, por sua vez, imensos recursos computacionais para conseguirem ganhos de escala suficientes para se manterem no negócio. É um mercado para poucos e grandes provedores.

 Um outro modelo inteiramente diferente é a empresa que se propõe a ofertar uma nuvem privada para um determinado cliente. Uma nuvem privada cria um novo modelo de engajamento entre a área de TI da empresa e seus usuários. A área de TI deixa de ser um centro de custos e passa a ser um provedor de serviços financiado pela utilização dos recursos computacionais ofertados às unidades de negócio da companhia. Um provedor de TI que se proponha a ajudar seus clientes a construirem nuvens privadas deve ter profundo conhecimento não só do conceito de nuvens, mas adotar tecnologias adequadas e modelos e práticas consultoria que ajudem o cliente a migrar para este modelo. É hoje o campo principal do foco de atuação em Cloud Computing da IBM.

 Portanto, quando alguém me pergunta qual melhor opção de Cloud, comparando Amazon, Google, Microsoft ou IBM, não existe uma resposta única, pois são bichos inteiramente diferentes.

 Mas, o que podemos arriscar e prever? Engraçado que sempre ouço perguntas do tipo “qual o futuro da tecnologia x” como hoje me perguntam sobre Cloud Computing. Na economia, na politica e na tecnologia existe a tendência de se alimentar o sonho que é possível ver o futuro antes que ele aconteça. O risco de errar é grande. Uma vez li, a tradução é claro, do “Nostradamus Vaticinia Code”, o livro de profecias de Michel de Nostradame, datado de 1629, que fala de um inevitável fim do mundo. Até agora nada deu certo, embora possamos interpretar suas profecias da maneira que quisermos. Ninguém previu a queda do muro de Berlim e suas consequencias para o mundo. Bill Gates achava em 2004 que o spam desapareceria em dois anos. Portanto falar de futuro é puro achismo, mas vou me arriscar a receber muitos apupos e tomates:

 1)     Com o modelo de Cloud Computing a indústria de TI vai passar do modelo de ownership para services-centric. Os investimentos em produtos e serviços de TI continuarão, mas as empresas os usarão no contexto de serviços. A idéia é “será que eu quero uma máquina de lavar ou quero minha roupa lavada?”. Assim, cada vez mas as empresas dependerão de provedores externos para suprir suas soluções de tecnologia, como hoje dependem de provedores externos para suprirem sua demanda de energia elétrica.

2)     Os modelos de negócios da indústria atual de TI vão se transformar da venda de produtos de hardware e licença de softwares para oferta de serviços, onde o hardware e software estarão embutidos no próprio serviço.

3)     Os ciclos de venda da indústria de TI estarão muito mais alinhados com as demandas dos negocios dos seus clientes do que de seus próprios ciclos de marketing e venda. Hoje as empresas de tecnologia anunciam novos modelos de hardware e novas versões de software sem maiores vinculos com as demandas do mercado. No contexto services-centric a força motriz para os ciclos de novos produtos e serviços virá basicamente do mercado.

4)     BPO (Business Process Outsouring) também serão serviços ofertados em nuvem. Ou sejam, serão dinâmicos em suas ofertas, de foma similar aos recursos solicitados em nuvens publicas. Em vez de contratos de cinco a dez anos veremos contratos Pay-as-you-go.

5)     Empresas com nuvens privadas podem agregar-se em torno de nuvens colaborativas, atuando em sinergia para determinados setores de indústria.

6)     Cloud Broker. Negócios que interagirão com os provedores de ofertas de nuvens e identificarão para cada cliente, a melhor oferta de serviços de nuvem. Provavelmente construirão uma camada de interface padrão que lhes permitirá acessar e interoperar com qualquer nuvem.

7)     PasS será o novo campo de batalha das tecnologias de middleware. Quem dominar o contexto das PaaS terão a primazia de definir o padrão de fato dos novos middlewares para Cloud.

8)     Em dez anos o modelo Cloud Computing será o modelo dominante e o próprio termo deixará de ser usado. Será o modelo computacional de uso corrente e portanto não precisará mais ser diferenciado. Hoje ninguém fala mais em computação pessoal ou cliente-servidor. Será o mesmo com Cloud Computing.

9)     E não chegaremos lá via “Big Bang”, mas será uma evolução lenta e gradual, acelerando-se à medida que o conceito se solidifique e mais e mais casos de sucesso venham a público.

 Conclusão? Cloud Computing terá um profundo efeito em como TI será adquirido, entregue e consumido. Novos modelos de negócios substituirão os tradicionais modelos de venda de hardware e licenças de software. Em vez de compradores de ativos os usuários serão “computing subscribers”, trocando investimentos em capital por budgets voltados à operação. Um novo mundo, com certeza.

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