O modelo SaaS começa aos poucos a ganhar tração e vemos a cada dia mais exemplos de sua adoção no mundo inteiro. Em alguns países o modelo está mais disseminado que em outros, mas de maneira geral já está na agenda dos executivos de negócios e de TI.
Uma recente pesquisa efetuada pela Saugatuck Technologies (um analista da indústria de TI), com CIOs do mundo inteiro mostrou que em 2014 53% deles já optarão pelo modelo SaaS quando adquirirem novos softwares. O modelo atual, on-premise fica com 47% das preferências.
Um outro exemplo prático da atenção que o tema vem gerando são as inúmeras questões e dúvidas que ouço quando apresentando palestras sobre Cloud Computing. Coletei algumas destas questões e vou compartilhar aqui com vocês.
Antes de mais nada é bom lembrar que o modelo SaaS já tem pelo menos uns dez anos e é uma evolução natural do antigo ASP (Application Service Provider). A novidade é a retaguarda tecnológica do SaaS, baseada em Computação em Nuvem, que favorece o modelo tecnológico multi-tenant, ou seja, uma única cópia do código compartilhada por muitos clientes, acessados remotamente e contratados via portais self-service, estruturado em um modelo de negócios comercial pay-for-use ou assinaturas, como uma linha de celular.
De maneira geral um produto SaaS apresenta as seguintes características:
a) Baseado em serviços. Isto significa que o cliente do software quer apenas usufruir de suas funcionalidades e não quer saber das caracteristicas técnicas que estão por trás, como plataforma de hardware, banco de dados, etc. Ele quer consumir o software como um serviço. Uma analogia: ele quer a roupa lavada e não a máquina de lavar.
b) Escalável. O provedor do SaaS tem que ter capacidade computacional para permitir o crescimento do número de usuários sem afetar a performance da sua base atual. Na prática, este é um quesito importante a ser analisado quando avaliando provedores de SaaS.
c) Economia de escala. O modelo SaaS significa compartilhamento por excelência e os provedores tem que implementar uma arquitetura multi-tenant para conseguir uma economia de escala adequada. Quanto mais usuários puderem compartilhar os recursos, maior será a economia de escala obtida, e mais rapida será a amortização dos investimentos do provedor. Com isso, ele pode oferecer custos de propriedade vantajosos em relação ao modelo tradicional, on-premise.
d) Modelo comercial pay-for-use ou por assinatura. O cliente de um produto SaaS não está adquirindo um asset de software, a ser instalado nos seus servidores, mas contratando uma assinatura para seu uso por determinado periodo de tempo, pagando pelo que consumir, como em uma conta de energia elétrica. E como um celular, se o serviço não o agradar, ele pode, pelo menos teóricamente, substitui-lo por outro.
Um questionamento que sempre ouço é se este modelo pay-for-use é real ou conversa de vendedor…Existem modelos comerciais onde você paga mensalmente pelo que consumir, bem como também existem modelos onde você paga o primeiro ano da assinatura de uso do software antecipado. Um exemplo, em um contrato por três anos, você pagaria 1/3 no primeiro ano na assinatura do contrato e os 2/3 restantes nos dois anos seguintes. Este modelo lembra o tradicional on-premise onde você paga antecipadamente a licença de uso do software e posteriormente os serviços de manutenção. Uma diferença é que não existe manutenção de software pelo usuário. Todo este trabalho está na retaguarda, no provedor.
Este modelo tem sido incentivado pela industria de software, pois facilita a transição das empresas de software que ganham dinheiro com o modelo atual de licenças para o SaaS. Recomendo a leitura do excelente livro “Behind the Cloud” do fundador e CEO da Salesforce, Marc Benioff, onde ele descreve a criação e evolução de uma empresa 100% SaaS, que é a própria Salesforce. Li este livro no meu Kindle aproveitando uma destas minhas últimas longas viagens e realmente ele é um guia de como criar e manter uma empresa de software no modelo SaaS. Imperdível para todos empresários da indústria de software.
Uma pergunta que ouvi e que me chamou a atenção é se SaaS atende a sistemas corporativos ou funciona apenas na periferia, ou seja em pequenos sistemas departamentais. Não tenho dados precisos da Salesforce por exemplo, mas um estudo do Gartner mostrou que em média os seus clientes tem algo em torno dos 50 usuários. Claro que eles tem grandes contas também e outras empresas como a americana SucessFactor (que ainda não tem representante no Brasil) fechou um contrato para seu sistema de RH com a Siemens na Alemanha, para 420.000 usuários (http://www.successfactors.com/promo/future/ ). É um indicador que é possivel sim, termos SaaS para grandes corporações.
E este assunto se liga a outro questionamento interessante. Se os executivos de negócio começarem a contratar aplicações SaaS bypassando a área de TI, isto não geraria uma bomba relógio? Sim, pois mais cedo ou mais tarde estes aplicativos terão que se integrar com os que rodam nos servidores da empresa ou mesmo com outras nuvens e a integração ainda é um desafio para a computação em nuvem. No início tudo é maravilhoso, mas à medida que mais e mais as aplicações SaaS forem se disseminando de forma descontrolada, sem passar pela área de TI, o problema potencial vai ser grande. Minha recomendação é que as áreas de TI assumam o controle do processo e definam desde já as regras de como selecionar e contratar SaaS, garantindo a integração das aplicações.
Uma outra pergunta foi “o modelo SaaS vai acabar com o modelo on-premise?”. Na minha opinião pessoal, pelo menos nos próximos dez anos ainda veremos os dois modelos convivendo. Existe muito software legado que levará anos para migrar para nuvem. Mas o modelo SaaS vai constinuar se disseminando e em algum tempo no futuro talvez não o chamemos mais de SaaS, pois será o modelo dominante. Mas continuará havendo espaço para o on-premise.