Tenho feito várias palestras sobre cloud computing, tanto abertas, como as do Ideti (www.ideti.com/br/cloud), que fiz em São Paulo e nas próximas semanas em Brasilia e no Rio de Janeiro, como em clientes e parceiros de negócios.
Destas palestras extraí algumas das questões mais recorrentes, que gostaria de compartilhar aqui.
A primeira, naturalmente, é “o que é cloud computing”? Na minha visão é um estilo de computação que provê recursos de TI “as a service”, de forma elástica, via Internet. As nuvens podem ser públicas ou privadas, estas restritas a própria empresa. De forma simplista, como se fosse uma intranet. E como reconhecer uma nuvem? Seus cinco atributos básicos são:
a) “Service based”, ou seja, através de um portal de auto-serviço os usuários provisionam e alocam recursos computaconais. Este interface esconde do usuário a grande complexidade que são as tecnologias que fazem uma nuvem existir.
b) Escalável e elástica. Os recursos (ou serviços) são provisionados e alocados de acordo com a demanda. Se a demanda aumentar, mais recursos serão adicionados. Por outro lado, se a demanda diminuir, menos recursos serão necessários. Eu, pessoalmente, prefiro o termo elasticidade, pois visualiza melhor o aumenta-diminui no uso de recursos.
c) Compartilhável. Os serviços compartilham um pool de recursos, de modo que o provedor da nuvem obtenha economias de escala e consiga repassar estes ganhos para os seus usuários.
d) “Pay as you use”. O usuário paga pelos recursos utilizados e não como hoje, quando tem que arcar com investimentos prévios em tecnologia.
e) Uso da Internet como interface de acesso.
Uma outra questão é sobre que tipos de nuvens existem…Muitos imaginam que uma nuvem computacional é apenas infra-estrutura como serviços, como a oferecida pela Amazon. Mas, existe também platform-as-a-service, como a oferecida pelo Google Application Engine e naturalmente SaaS, como o conhecido salesforce.com e o Lotus Live da IBM.
Me perguntam também se cloud é hype ou se tem substância. Bem, entendo que um novo paradigma computacional (como cloud computing) evolui e se dissemina pelo mercado se satisfaz plenamente determinadas características relacionadas com valor para o negócio. O primeiro quesito e eliminatório é o fator econômico. O novo paradigma traz benefícios econômicos e financeiros em relação ao modelo atual? Bem, cloud computing muda o modelo financeiro de capex para opex (reduzindo investimentos em capital) e otimiza os custos operacionais (oferecendo o modelo pay-as-you-use e minimiza ciustos desnecessários, pois não se paga por funcionalidades não utilizadas). Portanto, tem claro valor econômico e financeiro. Outro quesito são os benefícios diretos para o negócio, como permitir mais agilidade (elesticidade é um plus, mas através do auto-serviço permite que os usuários provisionem recursos quando precisam, sem necessidade de burocracias intermediárias e longas esperas pela liberação de recursos computacionais). Facilita a inovação e a criatividade, pois permite que a empresa se concentre no seu negócio e na construção de soluções que tragam resultado direto para o negócio, sem perder tempo e energia em upgrades de hardware e software.
Um outro quesito pode ser a simplicidade de uso. Muitos usam uma nuvem sem saber…Exemplos são o Gmail, Google Docs e o Facebook. Com computação em nuvem podemos iniciar uma empresa start-up sem necessidade de preocupação com infra-estrutura fisica. Fica muito mais fácil iniciar um novo negócio baseado ou suportado por TI.
Outro quesito é a confiança e a percepção de risco do novo paradigma em relação ao modelo atual. Confiança vai sendo adquirida com o tempo. Quando surgiu o modelo cliente servidor as inseguranças e o temor de se colocar aplicações em servidores distribuidos era muito grande. Hoje, é o paradigma dominante. O mesmo aconteceu com o surgimento do B2C e B2B, quando havia muito receio de se “colocar cartão de crédito” na Internet. Ou quando começou-se a usar Linux nos servidores. Ouvia-se muito a frase “eu não vou cloocar meus sistemas em um software que não sei quem é o dono”…Hoje Linux é usado comumente. Portanto, à medida que mais e mais casos de uso de cloud computing forem se disseminando, os temores irão diminuindo.
E finalmente, o impacto social do novo paradigma. O modelo computacional baseado em PCs levou a informática para dentro das casas, quando antes ela era restrita apenas às grandes empresas. O paradigma de cloud computing vai abrir novos espaços no uso de tecnologia. Mas, para este ponto quero levar a discussão para o crescente mercado dos países emergentes. Embora representem apenas 21% dos investimentos globais em TI, mais da metade dos novos investimentos em tecnologia ao longo dos próximos quatro anos virá dos países emergentes. Isto sugere que no ciclo tecnológico que está apenas começando os países emergentes irão pela primeira vez exercer influência forte na demanda e nas características dos modelos computacionais a serem ofertados. O modelo cliente-servidor, centrado no PC, aconteceu porque o modelo econômico dominante era do primeiro mundo onde as pessoas podiam adquirir os então caros PCs. Hoje a inclusão digital nos países emergentes não se dá apenas pelo PC mas, principalmente, por outros dispositivos como o celular ou até mesmo a televisão interativa. Com o uso disseminado de equipamentos de informática menos potentes, como os celulares, haverá um uso maior de serviços rodando nas nuvens estruturadas nos centros de dados das empresas. A mudança para este modelo de serviços resultará em uma radical mudança do atual modelo, que impõe que os usuários paguem previamente pela tecnologia.
Enfim, na minha opinião estamos vivendo os primeros passos de uma mudança significativa no modelo computacional. Cloud computing vai se tornar o paradigma do proximos anos, embora não vejamos uma explosão de uso tipo “big bang”, mas sim mudanças graduais. Mas estas mudanças graduais criarão ao longo dos próximos cinco a dez anos um novo modelo computacional. Querem apostar?