Em um dos últimos eventos sobre Cloud Computing um gestor de TI me disse que já usava computação em nuvem há bastante tempo. Me interessei, pois sempre busco casos de sucesso ou insucesso. Os de insucesso são muito interessantes, pois aprende-se muito com os erros…Questionado, ele me disse que já havia virtualizado quase todos os seus servidores. E? Sim, isso mesmo, na opinião dele, virtualizar os servidores significava já estar na computação em nuvem. Infelizmente, tive que frustrá-lo e mostrar que uma simples virtualização não é computação em nuvem. É apenas o primeiro passo, desde que exista uma estratégia para chegar lá. Se a virtualização for o objetivo final, não vai se chegar na computação em nuvem. Cloud Computing demanda mudanças nas arquiteturas tecnológicas, processos de governança, modelos de funding e relacionamento com os usuários e clientes.
Muitas empresas adotaram a virtualização com o objetivo de consolidar seus servidores e reduzir seus custos de hardware e energia. Ou mesmo evitar a construção de um novo data center, pela proliferação de servidores físicos. Entretanto, logo descobriram que passar, por exemplo, de 100 servidores físicos para 50 servidores, mas com 300 ou mais servidores lógicos virtualizados criava imensos problemas de gestão, com consequentes aumentos de custos.
Minha sugestão para ele foi dar os passos seguintes. A virtualização abstrai as aplicações da infraestrutura e pode ser a base para a construção de uma estratégia de cloud computing. Os passos seguintes devem ser a padronização e automatização do ambiente computacional. É um processo gradual.
Com um ambiente virtualizado podemos nos concentrar nas melhorias operacionais, criando mecanismos que permitam um provisionamento e alocação de recursos de forma mais rapida e automática. O usuario poderá ele mesmo requisitar os recursos computacionais, via um portal de acesso. Claro que neste estágio teremos que repensar os processos burocráticos e manuais que adotamos hoje. Quando uma requisição de servidores deixa de passar por um administrador humano e passa a ser automático, via portal self-service, e o tempo de provisionamento deixa de ser de duas ou três semanas, e sim de apenas alguns minutos, os processos devem ser revistos.
A adoção da computação em nuvem deve seguir uma estratégia bem definida. De maneira geral uma grande empresa começa por uma nuvem privada, de modo exploratório, com casos bem definidos e restritos. Um bom exemplo é o ambiente de desenvolvimento e testes. É uma boa maneira de se começar a colocar em prática a computação em nuvem. As lições aprendidas serão muito úteis quando da disseminação do modelo em nuvem para outros contextos, como o de produção.
A computação em nuvem provoca a revisão do relacionamento data center-usuário, inclusive permitindo uma visão mais exata do consumo de recursos e consequentemente abrindo espaço para uma revisão dos processos de funding da empresa. O modelo self-service abre novos desafios sob a perspectiva de segurança e gestão. Por exemplo, em um ambiente de teste em nuvem, todo e qualquer desenvolvedor poderá alocar um servidor virtual ou existirão regras claras de quem poderá alocar tais recursos?
Muito bem, começamos a explorar uma nuvem privada. Próximo passo provavelmente será adoção de nuvens híbridas, com algumas aplicações e serviços rodando em nuvens públicas. Surgem novos desafios, que vão da segurança à integração. Como interoperar uma aplicação que está em uma nuvem privada com outra que esteja em uma nuvem pública?
Porque pensar em nuvens híbridas? Muitas vezes será necessário lidar com periodos de pico que não justificam a aquisação de ativos (servidores), que se tornarão ociosos a seguir. Um exemplo? O próprio ambiente de desenvolvimento e teste poderá passar por períodos de pico extraordinários e de curta duração. Permitir que ele se expanda temporariamente para uma nuvem pública faz com que não seja necessário adquirir novos servidores.
Outro ponto que devemos analisar é que muitas aplicações e serviços poderão rodar sim, em nuvens públicas, desde que satisfaçam os critérios de segurança e governança corporativa. Neste caso, o modelo hibrido torna-se constante. Na minha opinião, a maioria das empresas de médio a grande porte irão, nos próximos anos, caminhar para este modelo.
Neste ano já vemos uma aceleração signficativa de uso da computação em nuvem. De forma exploratória, é verdade, mas à medida que formos aprendendo a usá-la e sentirmos seus beneficios, a velocidade de adoção será bem mais acelerada. Algumas estimativas apontam que cerca de 2/3 das grandes empresas já estarão usando, nos próximos anos, em maior ou menor grau, nuvens privadas. Nuvens híbridas serão o passo seguinte e logo após perderemos o medo de usar nuvens públicas.
Portanto, os gestores de TI estão diante de um futuro que já começa a se fazer presente: a empresa na computação em nuvem ou seja, o mundo pós-virtualização. A pergunta que se faz é: estamos preparados?