Em 2 e 3 de setembro aconteceu o IBM Forum 2009. Foram dois dias de densas atividades e um tema quente foi, indiscutivelmente Cloud Computing. Ministrei uma palestra, com mais de 160 pessoas presentes, o que demonstra o grande interesse pelo assunto.
Uma das coisas boas de qualquer grande evento são as conversas de corredor, as trocas de idéias e opiniões. No IBM Forum não foi diferente. Mantive várias conversas sobre o tema. E vou compartilhar com vocês um resumo destas trocas de idéias.
Interessante que computação em nuvem é visto por ângulos bem diversos. Para uns é a panacéia que vai resolver todos os problemas de TI. Esta corrente é incrementada pela mídia popular, onde o assunto já foi inclusive capa de revistas semanais como a Veja. Do outro extremo, vemos os céticos, que dizem que nada de novo vem com a computação em nuvem e que ela é apenas uma nova faceta dos velhos birôs de serviços dos anos 60 e 70.
Na minha opinião não é a panacéia universal, e muito menos os birôs maquiados. Na minha opinião, a computação em nuvem vai transformar o modelo econômico da TI, tanto do lado consumidor, quanto do lado dos fornecedores de tecnologias e serviços. Entretanto, devemos extirpar preconceitos e tentar entender o que será esta mudança. Primeiro, Cloud Computing não é uma inovação tecnológica, pois se baseia em diversas tecnologias já existentes, como SOA, virtualização e grid computing, mas é uma verdadeira disrupção na maneira de se gerenciar e entregar TI! Existe todo um novo ecossistema sendo construído em cima destes novos modelos. As relações entre provedores de tecnologias e serviços e seus clientes, bem como as relações dos fabricantes com seus distribuidores e VARs deverá mudar ao longo dos próximos anos, à medida que a computação em nuvem se dissemine.
Uma mudança significativa no modelo é a constatação que o modelo econômico atual, onde o consumidor de TI tem que dispender previamente elevados custos de capital (capex ou capital expenditure) começa a ser substituído por um modelo de opex (operational expenditure). Você pode, como já vemos acontecer na nuvem da Amazon, criar startups com capacidade computacional elástica, sem investir em ativos. Tem um case interessante de uma inovadora empresa para criação de vídeos, chamada Animoto (http://animoto.com/ que começou sua operação com 50 instâncias na Amazon. Ao lançarem o serviço também via Facebook o sucesso foi estrondoso. Em três dias tiverem que aumentar o numero de instâncias para 3.500! Podemos imaginar, no modelo atual, uma empresa precisando pular de 50 para 3500 servidores em apenas três dias? Existe possibilidade de você contactar um fornecedor, negociar e contratar estes servidores, instalá-los e os colocar em operação neste curto espaço de tempo? Não é um novo paradigma?
Na computação em nuvem não precisamos mais discutir GHz de processadores, porque não me interessa mais saber onde meus aplicativos vão rodar. A escolha da plataforma de execução vai se deslocar de caraterísticas técnicas para variáveis como custo, nivel de segurança, disponibilidade, confiabilidade e privacidade, e, importante, a brand do provedor. E tudo isso feito por self-service, através de um portal. Eu posso provisionar e operar um servidor na Amazon sem falar absolutamente com ninguém e pagar o que consumi de recursos computacionais com meu cartão de crédito.
Sintomático deste quadro foi a interessante conversa com um CIO que me disse que começava a ficar assustado com cloud computing, pois poderia ser “bypassado” pelos usuários. Estes poderiam reservar uma máquina virtual na Amazon e contratar algum desenvolvedor externo para criar uma aplicação, usando softwares open source, sem mesmo pagar licenças de uso. Sim, é verdade. A “desintermediação” da área de TI pode ocorrer, desde, e enfatizei a ele, desde que o CIO se abstenha de entender a computação em nuvem. Por outro lado, se ele desenhar uma estratégia de cloud computing, com um road map adequado, ele não irá mais manter o controle absoluto e centralizado dos recursos computacionais como faz hoje, mas vai assumir um novo papel, o de coordenar e orquestrar estes recursos, sejam eles obtidos de nuvens públicas ou de nuvens privadas.
Falando em nuvens privadas, a idéia é que a empresa crie uma infraestrutura dinâmica, com os usuáros internos alocando seus recursos computacionais da mesma forma que os provisionariam em uma nuvem pública, através de portais. Não precisariam mais solicitar servidores e esperar anuência dos administradores de sistemas. TI passa a ser um fornecedor de serviços, que seriam alocados de acordo com um “manual de políticas de uso de serviços computacionais”. Bem diferente do que vemos hoje!
Outro aspecto que discuti em algumas conversas foi por onde cloud computing vai começar a se disseminar nas empreas. É bem provavel que em muitas o movimento começará pelos usuários, que usando nuvens computacionais públicas ou contratando aplicativos pelo modelo SaaS forçarão a área de TI a aceitar o modelo de computação em nuvem…
Um questionamento que me chamou a atenção foi de um amigo meu que perguntou por onde e como começar a usar cloud computing. Na minha opinião as melhores chances de sucesso de introduzir novos paradigmas é não começar batendo de frente com as práticas arriagadas. Começar pelos ambiente de desenvolvimento e testes, ou mesmo por novos serviços como aplicações colaborativas (wikis e blogs) é um caminho que não substitui sistemas tradicionais e diminui-se drasticamente o risco de encontrarmos resistências, sejam culturais ou das politicas e hábitos já entranhados na organização.
E vejam bem…foram apenas dois dias de debates e conversas. Imginem o que não teremos pelos próximos meses!