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BlogBook com coletânea de posts sobre Cloud Computing

outubro 21, 2011


Em 2009 escrevi um livro sobre Computação em Nuvem, editado pela Brasport. O assunto vinha e vem despertando muito interesse, como vocês mesmo podem comprovar simplesmente acessando o Google Insights (http://www.google.com/insights/search/# ) e pesquisando pelo termo “Cloud Computing”. Vejam que o interesse vem crescendo de 2009 até hoje. Uma pesquisa feita em fins de 2010 pela comunidade MydeveloperWorks, entre 2.000 desenvolvedores mostrou que 91% deles acreditam que cloud computing sobrepujará o tradicional modelo de “on-premise computing” como principal modelo computacional para as empresas adquirirem tecnologias por volta de 2015.
No livro de 2009 procurei mostrar que a computação em nuvem não é apenas hype. Na minha opinião, a computação em nuvem vai transformar o modelo econômico da TI, tanto do lado consumidor de TI, quanto do lado dos fornecedores de tecnologias e serviços. Claro que estamos dando os primeiros passos e vemos ainda muita incertezas e indefinições. Basta ver o imenso número de definições, às vezes conflitantes entre si, que existem. Na pesquisa para o livro identifiquei dezenas delas!
No livro procurei fugir de definições e me concentrei em focar nos conceitos e nas carateristicas que fazem a computação em nuvem ser disruptiva. Se olharmos as nuvens pelos modelos de serviços vemos três modelos que são IaaS (Infrastructure as a Service), PaaS (Platform as a Service) e SaaS (Software as a Serice). Esta classificação de modelos é a mais comumente adotada, e inclusive, o NIST (US National Institute of Standards and Technology), que define padrões para o governo americano, liberou documentação onde se baseia nestes modelos para classificar as nuvens computacionais. Vejam o documento em http://csrc.nist.gov/publications/drafts/800-145/Draft-SP-800-145_cloud-definition.pdf .
Olhando pelo prisma da entrega ou deployment (deployment models) podemos classificar as nuvens em privadas (operada dentro do firewall da empresa), comunitária (compartilhada por determinadas empresas), públicas (abertas a todos, via Internet) e híbridas, que é a composição de duas ou mais destas nuvens. Esta classificação é a mesma, que basicamente adotei no livro.
A proposta deste blogbook é coletar os pricnipais posts que publiquei no blog http://www.computingonclouds.wordpress.com , que criei na época de lançamento do livro. Esta coletânea que vai mostrar a evolução do conceito ao longo destes dois anos. E dois anos em tempos de Internet é muito tempo! O blogbook se propõe a compartilhar com vocês as idéias e comentários que refeletiram a evolução de cloud computing e colaborar para o debate de como e quando adotar a Computação em Nuvem nas empresas. Nem todos os posts publicados originalmente no blog foram incluidos neste blogbook, mas apenas os mais importantes. Para oferecer uma visão cronológica e histórica da rapida e contínua evolução do Cloud Computing, os posts foram divididos em blocos, cada um deles cobrindo um ano, de setembro de 2009 até outubro de 2011. Procurei manter estes posts, na medida do possivel iguais aos publicados originalmente. Corrigi alguns crassos erros ortográficos, que passaram em branco quando foram inicialmente levantados.
Lembro também que as opiniões expressas neste blogbook e como foram os posts publicados no blog original, http://www.computingonclouds.wordpress.com, são fruto de estudos, análises e experiências pessoais, não devendo em absoluto serem consideradas como opiniões, visões e idéias de meu empregador, a IBM, nem de seus funcionários. Em nenhum momento, no blog e aqui, falo em nome da IBM, mas apenas e exclusivamente em meu nome.
O blogbook pode ser baixado (free) de https://www.smashwords.com/books/view/98138

Cloud Computing e os canais (VAR). Desafios à frente!

outubro 17, 2011

Semana passada tive uma reunião muito interessante com um empresário, CEO de uma empresa que atua no tradicional modelo de canais de revenda de hardware e software. Sua empresa está estabelecida há mais de 15 anos e diante do cenário de cloud computing e as mudanças que este modelo vai provocar na maneira de se entregar e consumir TI ele está preocupado. O tema da reunião foi exatamente esta: como o negócio dele (um VAR ou value-added reseller) deverá se transformar nos próximos anos?

Na cadeia de valor atual os canais são fundamentais para o sucesso da operação de qualquer grande empresa que vende hardware e sofware, pois aumenta signficativamente sua capilaridade no mercado. Entretanto, o modelo de cloud vai afetar esta cadeia, pois permite criar links diretos entre os fornecedores de tecnologia e seus compradores. Por exemplo uma empresa de software pode ofertar seus produtos na modalidade SaaS e não mais demandar um intermediário no processo. Os consumidores acessarão diretamente o site do fornecedor. Neste caso, como fica o canal?

A conversa fluiu de forma bem agradável e tiramos algumas conclusões, que gostaria de compartilhar aqui.

Primeiro, está claro que o modelo de cloud computing não vai se disseminar de um dia para o outro. Todo processo de mudança leva algum tempo e alguns setores de industria são mais rapidos que outros em adotar novos conceitos. O impacto nos canais, será, portanto, diferente, dependendo do setor de negócios em que o canal atua. Isto significa que os canais terão tempo de se ajustarem às mudanças, desde que não ignorem que estas mudanças serão inevitáveis.

Para fazer as mudanças os canais dependem também do apoio dos fornecedores. Algumas empresas como a IBM tem estratégias bem definidas para apoiar os canais nesta transição. Por exemplo, lançou recentemente um programa chamado IBM Cloud Computing Specialty, patrocinado pelo IBM Partner World, como pode ser visto em https://www-304.ibm.com/partnerworld/wps/servlet/ContentHandler/isv_com_spe_cloud_index.

Os impactos nos diversos modelos de canais também serão diferentes. Por exemplo, no caso da empresa deste empresário, uma parcela signficativa da sua receita, segundo ele mais de 30%, vem de serviços profissionais como implementação, configuração e upgrades do software no cliente. Dependendo da complexidade do software, o modelo SaaS pode eliminar esta fonte de receita. No SaaS os upgrades são feitos automáticamente na nuvem do provedor do software e não mais demanda que o VAR vá ao cliente instalar e configurar uma nova versão do software.

Surgiu um debate sobre os canais dedicados à venda de hardware. Ele mesmo tem renda forte oriunda deste negócio. Supondo que no futuro as vendas para pequenas e médias empresas diminuam ou mesmo deixem de existir, pois seria mais facil para elas consumirem servidores virtuais em nuvens publicas, o que fazer? Uma das idéias é se tornarem cloud providers de infraestrutura (IaaS), desde que tenham capacidade financeira e expertise para tal. Afinal, construir um data center para oferecer serviços confiáveis e seguros de IaaS não sai barato. Ou mudarem para um foco mais concentrado em serviços. Existem diversas alternativas.

A IBM, por exemplo, considera que seus parceiros podem atuar em um ou mais de cinco papéis no mundo cloud:

a) cloud builders: empresas de serviços que ajudam os clientes a planejarem e construirem suas nuvens privadas.
b) cloud infrastructure providers: empresas que oferecerão serviços como IaaS ou PaaS através de nuvens públicas para seus clientes.
c) cloud application providers: empresas que oferecerão seus softwares na modalidade SaaS, seja em nuvens próprias (privadas) ou hospedados em cloud providers.
d) cloud service solutions providers: empresas que oferecerão serviços especializados para nuvens, como monitoramento e capacity planning.
e) cloud technology providers: empresas que oferecerão tecnologias complementares à tecnologia IBM. Um exemplo é a Corent (http://www.corenttech.com/) empresa que produz um software que ajuda a transformar um software single-tenancy em multi-tenancy.

Uma outra conclusão é que chegamos é que os canais terão que sair da inércia. Terão que pensar em como serão daqui a cinco a dez anos. Se hoje as suas vendas são basicamente de produtos de hardware e software no modelo tradicional, estas vendas continuarão no mesmo patamar daqui a cinco ou dez anos? Por outro lado uma empresa acostumada a só vender hardware e software não passa a ser uma empresa de serviços de um dia para o outro. Seu DNA corporativo tem que ser modificado genéticamente…

Inevitavelmente que dependendo da cadeia de valor, poderão existir eventuais conflitos entre algumas empresas produtoras de software e hardware e seus canais. Algumas empresas permitem que apenas determinados parceiros assumam papéis como provedores alternativos de IaaS aos seus produtos. É uma fonte potencial de atritos.

Mas, além dos problemas a serem enfrentados pelos canais, vimos que existem inumeras oportunidades a serem exploradas. Um exemplo é a necessidade dos clientes vencerem os inibidores da adoção de cloud computing como segurança, interoperabilidade enre nuvens e entre nuvens e aplicações on-premise, riscos da migração, ajustes nas politicas de governança e assim por diante. No mercado de médias e pequenas empresas a carência de expertise em cloud é grande e isto abre imensas oportunidades para os canais que se inserirem neste modelo de serviços.
Ora, os canais que já tenham um pé em serviços poderão se aprofundar mais rapidamente nestes tópicos e criar expertise de modo a oferecem serviços consultivos muito mais lucrativos que os atuais. Um ponto importante lembrado pelo empresário é que sua empresa construiu uma relação bem intensa com seus clientes e que esta relação pode ser a chave para ele oferecer os novos serviços em cloud.

O resultado final da reunião foi que o modelo de negócios atual onde o VAR compra produtos mais baratos e os revende com uma margem adicional pelos seus serviços está começando a dar sinais de erosão, provocados pela crescente disseminação da computação em nuvem. Para, no futuro, não ficarem marginalizados na cadeia de valor, seu negócio terá que ser reinventado. Um novo ecossistema baseado no modelo de cloud computing será criado. E com certeza, como este empresário disse, a empresa dele terá que ficar dentro ou simplesmente sairá do mercado.

G-Cloud: estratégia de Cloud Computing do governo britânico

outubro 4, 2011

Muitos governos estão adotando cloud em suas estratégias de TI, como o americano (cuja estratégia “Cloud First” foi analisado em um post anterior) e que já está em pleno andamento. O governo federal americano tem como meta desativar, por consolidação e uso de computação em nuvem, cerca de 800 data centers até 2015. Também estão se movimentando ativamente para identificar processos e aplicações que podem ser migrados para operarem em nuvem. Já tem em operação um portal de aplicações, o Apps.gov (https://www.apps.gov/).

O Reino Unido também está desenhando sua estratégia de cloud computing, a G-Cloud, que acabei de ler detalhadamente. É uma coletânea de relatórios que definem a estratégia de cloud computing do governo britânico, que podem ser acessados em sua íntegra em http://www.cloudbook.net/directories/gov-clouds/gov-program.php?id=100018. Também aproveitei um tempinho e li a estratégia de cloud do governo australiano em http://www.finance.gov.au/e-government/strategy-and-governance/docs/draft_cloud_computing_strategy.pdf.

Neste post vou comentar alguns aspectos destas estratégias, principalmente do G-Cloud britânico, que me pareceram bastante interessantes e que merecem destaque.

Um dos pontos mais importantes destacados nos relatórios G-Cloud é a expectativa que cloud computing não apenas reduza custos, mas principalmente dê mais agilidade e flexibilidade ao setor publico, em termos de uso de TI. Na verdade, G-Cloud faz parte de uma estratégia maior que se propõe a colocar o Reino Unido como um dos países líderes na sociedade digital. Um aspecto interessante é que G-Cloud faz parte da politica de Green IT, que definiu como objetivo que a TI do governo britânico seja neutro em carbono até fins de 2012.

Ao lermos os relatórios que desenham a estratégia G-Cloud fica claro que eles reconhecem que um dos seus grandes desafios é a mudança cultural da área de TI, de um modelo que hoje controla e gerencia todo o ciclo de vida da tecnologia e dos serviços de TI, para um modelo que selecione e integre serviços, reutilizando o máximo dos ativos já existentes. Uma das principais fontes de reutilização será o “Government Applications Store” que se propõe a catalogar e disponibilizar aplicativos para serem utilizados pelos diversos órgãos do governo britânico.
O “Government Applications Store” será um marketplace (como Android Market) onde atuais e novos fornecedores de aplicativos para órgãos publicos disponilizarão seus serviços. Haverá um processo de certificação, o que vai garantir aos órgãos públicos que o aplicativo estará aderente às legislações e regras do serviço publico britânico.

Também fica claro que os objetivos de redução de custos e obtenção de maior agilidade com o uso da computação em nuvem só se dará quando alcançarem escala suficiente, e que não serão conseguidos no curto prazo. Estimam que o processo completo de migração para cloud computing leve uns dez anos.

Um ponto interessante é que eles destacam que a inovação do modelo G-Cloud é muito mais um novo approach de governança e gestão de TI do setor público que de novas tecnologias. Concordo com esta argumentação, pois de maneira geral, cloud computing é baseado em conceitos e tecnologias já comprovadas na prática como outsourcing, virtualização e software como serviço.

Outro ponto que merece destaque é que a estratégia G-Cloud inclui não apenas nuvens privadas, mas também permite o uso de determinadas aplicações e serviços em nuvens públicas. Quanto à segurança e privacidade, G-Cloud está limitado ao nivel de segurança denominado Impact Level IL4, de uma classificação que vai de um (acesso livre) até seis (top secret), passando por cinco (secreto) e quatro, classificado como confidencial. O nivel dois é acesso protegido e três é de acesso restrito. Portanto, nem tudo vai para G-Cloud, mas a imensa maioria dos atuais e novos serviços de TI do goveno britânico se satisfaz com o IL4. Um maior detalhamento dos Impact Levels pode ser visto em
http://www.cesg.gov.uk/policy_technologies/policy/media/business_impact_tables.pdf. Além disso, o relatório aponta que serão necessárias revisões nos atuais modelos e processos de segurança de TI, que são orientados ao modelo tradicional de data center e não ao ambiente de computação em nuvem.

A leitura destes relatórios é interessante pois ajuda aos setores públicos (e mesmo privados) a criarem referências para desenharem suas estratégias de cloud. O sucesso de nuvens privadas depende de escala. Um data center com poucas dezenas de servidores não obterá os mesmos resultados gerados por processos padronizados e automatizados ao extremo, como cloud computing propõe, quando comparado a um data center com milhares de servidores. Talvez, para estes data centers menores, a melhor alternativa seja adoção de nuvens públicas ou uma simples virtualização de seus servidores. Para o setor publico, uma outra alternativa a considerar é o uso de clouds comunitárias, com diversos órgãos compartilhando uma mesma nuvem.
Enfim, a consluão que chegamos é que ir para cloud é um processo irreversível. A discussão é quanto a velocidade deste processo.